[Resenha] Jaula - Astrid Cabral
A autora, dando-se conta da assídua presença dos animais em sua obra, em contraste com a quase absoluta ausência de anjos, decidiu reuni-los nesta antologia. Os animais, flagrados na realidade objetiva, ou hóspedes do imaginário pessoal, atestam-lhe a natureza telúrica e panteísta, resultante de sua vivencia amazônica.
Astrid
Cabral mais uma vez nos surpreende, dessa vez com a publicação da segunda
edição do livro Jaula, o que já era belo, ficou ainda mais. O livro reúne poesias
magníficas, retratando algo que entendemos como os sentimentos dos animais, e
indo mais profundo, talvez ate retrate o ser humano.
“Dentro de mim há cachorros
Que uivam em horas de raiva
Contra as jaulas da cortesia
E as coleiras do bom senso.
Solto-os em nome da justiça
Tomada de coragem homicida.
Mas sabendo que raiva mata
À míngua de domar meus cães
Vacinei-os. Ladrem mas não mordam
E caso mordam, não matem”.
Eu
sempre encontrei muita dificuldade em resenhar livros de poesia, mas são sem
duvidas os que mais amo e leio. Entendo que lidar com poesias é lidar com sentimentos,
e talvez isso torne as coisas mais difíceis. Astrid nos permite ter sentimentos
em cada verso de seu livro. Poesias calmas que gritam em nossa mente, que nos
envolvem e não soltam. Uma leitura fluida que nunca faz o leitor se cansar.
“De manhãzinha qualquer
Latido me apunhalava.
Era nosso brinquedo favorito
E foi enterrado no jardim
Com o ritual de praxe:
Velas e rezas, choro e flor.
Só não teve missa que
nesse tempo era em latim.
Quando o capim cresceu
Regado pelas chuvas
Passávamos as mãos nele
Dizendo: o pelo mudou de cor”.
Eu
não esperava menos de Astrid, que sempre me ganhou com sua escrita, uma autora
que escreve com maestria, que expõe sentimentos nas palavras, que merece todos
os aplausos e reconhecimento do mundo. A Editora Penalux fez um trabalho lindo
na diagramação e na publicação dessa edição. Recomendo demais.
“(...) Em que invisível ar
estas a voar”?
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