Título: Estação Carandiru
Editora: Cia das Letras
Páginas: 297
Ano: 1999
Gênero: Ciências Humanas
Com certeza você já ouviu falar em Dráuzio
Varella. Médico Oncologista, ele é uma personalidade que tem grande destaque na
mídia. Além da inegável competência para a medicina, Varella demonstra também
talento para a literatura.
Varella inicia sua escrita
descrevendo o ambiente do presídio e suas sensações ao também se ver privado da
liberdade durante o trabalho. As condições sanitárias são o primeiro momento de
choque.
O presídio que deveria comportar
menos de 4000 indivíduos era superlotado, tendo celas com mais de 20 pessoas
que dormiam amontoadas. Tuberculosos não tinham assistência e transmitiam a
doença para os demais, além de que, antes da chegada do médico com seu projeto,
não havia nenhum programa de prevenção à AIDS, uma epidemia que se alastrava
entre os detentos.
Varella percebeu que
apenas palestras sobre AIDS não ajudariam na situação dos presos que morriam
aos montes sem receber nenhum cuidado. Seria necessário uma equipe ambulatorial
disposta e bem paga para aceitar trabalhar naquelas condições, o que era impossível,
devido à ausência de verba do governo.
Assim, o médico escolheu
se voluntariar e exercer seu ofício sozinho, apenas com ajuda de seus
assistentes detentos, correndo risco de contrair inúmeras doenças ou ter sua
segurança e integridade física arriscadas.
Dr. Drauzio se tornou
amigo de muitos presos, curando inúmeros e ouvindo suas histórias de vida, cada
uma transcrita em um capítulo, os quais eram, muitas vezes, ditados pelos
próprios detentos. A vida dos presos antes da Detenção e o estilo de vida fora
das grades é outro motivo de choque para o leitor.
Para muitos o crime é
apenas um trabalho como qualquer outro e as armas um meio de produção. Enquanto
são maridos e pais exemplares, alguns não hesitam em matar se acharem
necessário, uma vez que essa é a maneira que encontraram para garantir uma vida
“digna” para suas famílias.
As drogas se tornaram
outro problema forte do Carandiru. A maior parcela dos presos era viciada e a
cocaína injetável se tornou o maior fator transmissor de AIDS entre os
detentos. Com as massivas campanhas de Varella contra o vírus da doença,
os presos concluíram que era melhor deixar de aplicar cocaína na veia e
substituí-la pelo crack. Obviamente, apesar de não ser essa a intenção do
médico, o número de doentes decaiu drasticamente após a cocaína perder espaço.
Sem mais, o ápice do livro
é a narração do Massacre ocorrido no dia 2 de outubro de 1992. Na Detenção
estava rolando um campeonato de futebol entre os presos, evento comum e que
gerou problemas. Porém, nesse dia fatídico uma briga boba tomou proporções
maiores e desencadeou uma rebelião (não se sabe ao certo qual o motivo da
confusão, algumas testemunhas afirmam que começou por causa de um espaço no
varal). Como boa parte dos detentos não perceberam o que ocorria por estarem no
jogo, não puderam tomar posição para se defenderem de uma provável invasão
policial.
O massacre ocorreu um dia
antes da eleição para governador e o número “oficial” de mortos, 111 (o autor
dá a entender que o número real de mortes foi muito maior, podendo ser
constatado por uma simples caminhada no pavilhão esvaziado após o ocorrido), só
foi divulgado 20 minutos antes do fechamento das urnas.
0 comentários